segunda-feira, 23 de março de 2009

Riscos escondidos na intervenção cirúrgica na estética.

Busca pela beleza esconde riscos à saúde da mulher

Perla Ribeiro / Redação CORREIO Foto: Marina Silva / CORREIO Ainda grávida, a americana Tameka Foster, mulher do rapper Usher, já agendava no Brasil uma lipoaspiração para depois do parto. Na sexta-feira passada, durante a realização do procedimento, em São Paulo, sofreu parada cardíaca e entrou em coma ao ser anestesiada.
Ela é mais uma personagem que entra para a estatística daqueles que, em nome da beleza, investem em uma intervenção cirúrgica e acabam pagando um preço alto por isso. Na Bahia, não há dados oficiais acerca das complicações e insatisfações por conta desses procedimentos. Porém, esse mercado tem crescido no estado. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP/BA), César Kelly, o número de intervenções estéticas subiu 20% no ano passado em comparação com 2007.





40% das cirurgias não são realizadas por cirurgiões plásticos, diz Kelly
Em 2008 foram aproximadamente 120 mil. E a estimativa de Kelly é de que 40% das cirurgias não são realizadas por cirurgiões plásticos.“São menos de dez processos por ano e só há cirurgião plástico envolvido em menos de 20% deles”, informou.
Embora a Resolução nº 1.711 do Conselho Federal de Medicina (CFM) considere indispensável a habilitação prévia em cirurgia geral para a realização de lipoaspiração, o presidente da SBPC na Bahia diz que, no Brasil, o fato de ter diploma de médico autoriza o profissional a fazer qualquer procedimento de que se julgue capaz. “Se existe um especialista, cabe à população se conscientizar”, adverte César Kelly.
Risco existe em qualquer procedimento cirúrgico. Porém dificilmente quem entra no centro cirúrgico para realizar alguma intervenção em nome da beleza cogita os problemas que a experiência pode acarretar. Mesmo tomando as devidas precauções para fazer uma lipo, a cabeleireira C.C.D.S, 39 anos, não ficou satisfeita. “Minha barriga ficou toda enrugada, cheia de pele, tomei um susto”, conta C.S., que optou pela lipo justamente para evitar a cicatriz da cirurgia de abdômen. Diante do resultado, acabou sendo submetida a uma cirurgia de mini-abdômen e, por último, a uma abdomenplastia. “Não fiquei satisfeita. Tenho feito tratamento para ver se me livro da cicatriz”, contou.

Não satisfeita com resultado da lipo, C. teve que se submeter a plastica de abdômen
Segundo dados da SBCP, dos problemas envolvendo cirurgia plástica, 50% são decorrentes da anestesia, seguido de cicatrização, infecção e outras complicações de caráter estético. Tudo ocorreu tranquilamente durante a cirurgia da estudante Vanessa Ribeiro, 24, para implante de 200ml de silicone.
Ela não via a hora de conferir o resultado e, para a sua surpresa, logo após a retirada dos pontos, constatou um pequeno defeito que para o médico foi considerado algo imperceptível. “É um detalhe muito sutil, só dá para perceber quando levanto os braços. A prótese não ficou simétrica. O problema é que, quando a gente faz uma cirurgia dessa, a gente busca a perfeição”, diz a estudante, que à época, ficou emocionalmente abalada
No intuito de reparar o problema, chegou a procurar o médico por mais de cinco vezes. Depois, deixou de mão. “Ele chegou a dizer que corrigiria, mas percebi que estava me enrolando”, conta a estudante, que desembolsou R$ 5.500 pelo procedimento com um profissional habilitado. E, antes de escolhê-lo, fez consulta com outro.
Apesar das queixas informais serem muitas, são poucas as que vão parar no Conselho Regional de Medicina (CRM). Segundo o corregedor do conselho, Marco Antônio Cardoso de Almeida, o número de queixas, no ano passado, decorrentes de cirurgia plástica não chegam a cinco e não há nenhum registro de óbito. “Na Bahia, só lembro de um óbito faz tempo e o médico foi apenado”, informou. Alguns casos também vão parar no Núcleo de Apuração de Crimes Relativos a Erros na Área da Saúde (Nacres), do Ministério Público Estadual (MPE)
Quando a questão é estética, o promotor Valdemir Leão da Silva diz que ela costuma ser resolvida na esfera cível, por meio de indenização. Porém, quando há morte ou o resultado causa danos funcionais, aí oproblema muda de foco e vira investigação criminal por erro médico. “Lembro de um caso em que a paciente foi fazer uma cirurgia múltipla e foi a óbito. Nesses casos, o risco é grande porque a paciente passa 8 horas em procedimento cirúrgico, tornando o risco de embolia maior”, informou o promotor, que integra o Nacres

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